quinta-feira, 28 de junho de 2012

Dicurso 11


Foi assim, de repente, num piscar de olhos, onde me falha a memória, em um instante sem tempo. Que vi, de relance, como quando viramos a cabeça muito rápido, e sobra no canto do olho uma imagem muito abstrata, como uma rastro ou uma pegada, bem na fronteira entre o percebido e o anunciado. Um fantasma! Ainda sem corpo ou palavra, mas presente, latente. Vejo a sombra da Morte, que se esconde silenciosa por de trás de todas as coisas (ou a Vida que aguarda na contingência). Sinto um medo que corta o pensamento, que inutiliza o gesto e cala a voz. E tudo ao meu redor torna-se cinzas. E a casca do mundo se revela frágil como um espelho. E desde então, caminho cauteloso e taciturno, como quem anda por sobre cacos. E ouso a cada passo, o solo se rachar lentamente por sobre meu pés vacilantes. Esse som de Angústia ecoa pelo vazio infinito de dentro de mim... Agora, tudo que espero, mesmo na desesperança, é tecer meu Véu de Maya, belo e brilhante, como o ouro falso dos tolos e dos loucos, repleto de múltiplas formas geométricas dançantes como um arabesco colorido. Para cobrir meu altar de papelão feito relíquia, e adorar meu falso ídolo de dupla face, brindando a vida com um cálice de ossos.

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