segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Discurso 301

Me olho no espelho e deparo-me com o Eu, essa construção precária e cambiante formada por fragmentos de percepção e memórias da superfície do Ser que chamamos consciência. E não paro de me perguntar o que há por de traz dessa máscara de pele, carne e osso, que as vezes se releva misteriosa num instante, no brilho de meu olhar vazio e infinito. A substancia mistica, a linha mágica que liga em emaranhados de nós a existência das coisas e dos seres, deixando indelével a marca das interdependências da vida, que se esticam e se encolhem, mas nunca se quebram englobando mesmo a morte e os aspectos parciais da finitude aparente. E que para além do indivíduo que sou, que se instala no tempo com seu começo e seu fim, habita em mim o impessoal da vontade universal. E sinto com angústia intima as raízes obscuras e profundas do que me precedeu e sustenta, e que proclama o vindouro, que mesmo desconhecido tende a regressar. Pois a escolha advem da ação, no tempo primeiro do corpo, antes do pensamento.