segunda-feira, 18 de março de 2013

Discurso 177

O primeiro valor que se da a um ser é o nome. O nome é a alma inventada das coisas. A forma invocativa que duplica o real e presentifica o ausente em som e imagem. Posto que nas trocas intimas a coisa ganha matéria de palavra e a palavra matéria de coisa. Antes do nome, que distingui e marca, as coisas eram chamadas indiferentemente de Tudo, ou Nada, tanto faz... fora da palavra, a beleza primitiva e assombrosa da natureza selvagem das coisas inomináveis, sem razão nem divindade, apenas o Isso.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Discurso 63

Não há um único dia em que eu não acorde querendo dormi. Com os olhos entreabertos ainda úmidos de aurora, vejo a vida se desfazer nas brumas do sonho, se perder na irrealidade dos desejos anônimos. E antes que eu possa afirmar que despertei, transito sem corpo, num tempo distinto, nostálgico e sonambúlico, entre mortos e não nascidos, entre Eus vividos e mentidos. E minha vida íntima e abstrata emerge, fluindo por sobre as engrenagens enferrujadas do cotidiano, enchendo minha externalidade, meus gestos fúteis e necessários,  da sonolência profunda e intransponível dos astros.
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