sábado, 30 de janeiro de 2010

O estranho

A primeira sensação que acompanha todas as coisas que se me apresentam é a estranheza. As minhas percepções estão sempre impregnadas de um sentimento brutal de não pertencimento. Meus sentidos não se apossam das coisas, as coisas é que se apossam de meus sentidos, tornando-me avesso a mim mesmo. Esse estranhamento radical me torna um eterno estrangeiro de tudo e de todos, inclusive de mim mesmo, pois até o aparentemente familiar me é estranho. Por exemplo meu corpo, fundamento de minha vida, massa de carne, sangue e ossos que sustenta meu Ser, mas ainda assim parece pertencer a outro. O que em mim sente é estranho a mim, pois não sei o que sinto, nem se realmente sinto, e muito menos o que é sentir. Minha alma é insólita, como um hospede mal acostumado, como o conjunto de sensações estranhas do mundo externo que se internaliza em meu peito, ou melhor dizendo, no peito dele, do outro, do estranho que mora em mim e que as vezes penso que sou eu, seja lá quem eu for, ou quem seja ele. Não importa a onde eu vá ou como me encontre, estou sempre perdido. E é na perda do que nunca se encontra que está minha estranheza!