domingo, 14 de junho de 2009

Crônica Urbana II: cidade submersa




"Ergo em silêncio, como um pirata perdido,
Minha negra bandeira e me sento.
Mexo e remexo e me perco e adormeço,
Nas ruínas da cidade submersa.
Sonhando um mar que não conheço
Como não conheço as ondas do meu coração.
Restaram que nem cinzas, cicatrizes que tentei cobrir ainda com pudor.
Na memória tantas vagas, que nem posso repetir ou explicar, se me doeu azar,
Não quero saber de nada..."
(Paulinho da Viola)

A cidade, emaranhado de vidas humanas diversas tão diferentes quanto iguais, amontoado de pedra e carne que pulsa, mexe, se expande e se contrai em movimentos sinuosos, mosaico de fragmentos infinitos. Caos e Ordem que se confundem e dançam em meio às multidões, prédios e avenidas. Frente a isso nasce o citadino, o metropolitano, o urbanóide, filhos da Modernidade, percussores a Pós-modernidade. Trabalho, atividade, produção, máquina, mil mãos e mil olhos agindo ao mesmo tempo, Tempo curto, fragmentado em milésimos, segundos, minutos, horas, controlado pelo Deus-Relogio, senhor das metrópoles. Esse homo-urbanus, solitário em meio à multidão submerge no mar da cidade, ruas, becos, pontes, e ao mesmo tempo quase como uma forma simbiôntica sente a cidade também submergir em seu peito, dar forma a seus sentimentos e moldar sua própria alma. Alma que se sonha, profunda como o mar, alma desconhecida, misteriosa como as ondas do coração.