domingo, 22 de julho de 2012

Mudo amor


O encontro inesperado causou surpresa e espanto, mesmo disfarçado por de trás de um ar cotidiano de banalidade. Eles se cruzaram na saída de um prédio comercial no centro da cidade em meio aos transeuntes indiferentes. Ambos de cabeça baixa, imersos em suas particularidades quase não viram um ao outro, e se viram, não foi por atenção, mas por intuição. Em um leve movimento do olhar, em um único instante efêmero de casualidade do destino, se encararam, assim meio de lado, no ato continuo da passagem, como algo que se lembra e se esquece. A cena foi um tanto constrangedora, cumprimentaram-se friamente, trocando sorrisos tímidos e dissimulados, e continuaram seus caminhos opostos em busca da mesma coisa, mas não sem antes vacilar, cheios de dúvidas e temor. Já distantes, separados pelo abismo das escolhas; ela parou na esquina sem se virar, e esperou alguns minutos pelo improvável, antes de partir definitivamente. Ele diminuiu o passo e se virou, buscando inutilmente a imagem dela na multidão. Faltou coragem, sussurra uma voz...
Esse amor que é silêncio e sombra, sempre presente e passageiro, tal como um déjà vu. De tão delicado, beira a não existência, constituído de restos de memória, desejos imperfeitos, poemas antigos e filmes em preto e branco, de paisagens marítimas vastas e vazias de um norte qualquer. Idealizado na ausência há flertar paradoxalmente com a solidão.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Orgulho

O único orgulho que carrego nessa vida é o de ter tentado e falhado. Insistido! sem motivos aparentes. E falhado novamente. E só então, enfim, livre de esperança, de peito aberto para o imponderável; tentado mais uma vez, só para louvar a derrota gloriosa que marca a beleza imperfeita de minha raça.