domingo, 18 de dezembro de 2011

A Ponte: buscando uma ontologia do movimento

                                                                                                                                             ( A ponte, xilografia, Maria Bonomi)

De longe eu vejo a ponte que me liga ao horizonte. O horizonte que é o por vir, para onde tudo há de ir e há de voltar. Para lá eu vejo o além, o abstrato indefinido que se perde no olhar e se estende no infinito imaginado.
Na ponte a passagem, o preço da travessia. Puro movimento, movimento imóvel em si e sobre si. Que me leva a mim mesmo e ao desconhecido de mim, a outra margem do que sou. Do eu ao outro. O eterno desconhecido sempre a se relevar. O passo a frente ou atrás no agora. Pois na ponte não há direção, nem chegada nem partida, só translação. E o caos do tempo, logo abaixo, em sua ondulantes águas obscuras e misteriosas, ergue-a em eternidades labirínticas, em linhas sinuosas que escondem em seus emaranhados um destino incerto, como nas linhas de uma mão.
A ponte não se faz de pedra ou de metal, se faz de azul, um azul espiritual, profundo e frio como o firmamento, insustentavelmente leve, como o indelével ser  que não se constitui em essência fixa, mas em processo constante. A ponte passa, a ponte paira sobre a vacuidade branca. A ponte aponta para dentro, nos conecta ao mundo pelo avesso, pelo estofo. A ponte liga pontas oposta da mesma corda. De um lado um passado inventado, a memória embaçada, do outro um futuro virtual, a sombra das esperanças condenadas. A ponte nada é, está sendo, em um presente incalculável, o espaço da transformação, a expansão sem limites, a vida pungente e a morte logo a frente...
Aponte para a ponte e atravesse-se!

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