terça-feira, 6 de dezembro de 2011

                                                                    (M.C. Escher)


A Imensidão é o que o Espaço não contem, assim como a Eternidade é o que o Tempo não conta.


Kant diz que o tempo e o espaço são categorias cognitivas do espírito humano, ou seja, instrumentos da inteligencia que servem pra tentarmos explicar esses dois fenômenos e de certa forma controlá-los parcialmente. Eles não podem apreender o que Kant chamou de a “Coisa em Si”, conceito tanto interessante quanto obscuro (metafísica). Eu diria que o tempo e o espaço são elementos da tal da “Coisa em Si” que se referia Kant. É claro que desde a teoria da relatividade de Einstein sabemos que tempo e espaço não se separam, pois um depende do outro. Mesmo sabendo disso é comum que utilizemos termos de medias distintos para o tempo e para o espaço. Metros e sentimetros dizem respeito ao espaço, enquanto horas, minutos, segundos referem-se ao tempo. Mas mesmo quando por equivoco pensamos nos dois separadamente, acabamos por depararmo-nos com suas naturais coincidências. O tempo de um lado é formado por dois elementos opostos, o que passa e o que permanece, posto que só é possível perceber o que passa, comparando com o que permanece, e vice versa. O espaço, por sua vez, também carrega um fundamento dual, ele contém, delimita, mas para fazer isso tem de se levar em consideração o que contem o espaço, o que esta fora dele, que colabora para compô-lo.
Pensemos na linguagem. Me parece ser o primeiro instrumento intelectual, abstrato e teórico que ajuda a nos relacionarmos com o tempo-espaço em sua dupla função. Com o tempo porque a linguagem carrega memória, através dela podemos nos referir a algo no passado ou mesmo no futuro( por isso os tempos verbais são tão importantes no aprendizado de qualquer linguagem), algo que já não necessariamente existe, ou ira existir. No espaço, a linguagem permiti presentificar o ausente, aproximar o distante, podemos nos referir a algo que não necessariamente esta presente no espaço. Se digo a palavra gato, mesmo o que o “Ser gato” não esteja ao alcance da vista, ele surge na memória, se aproxima do entendimento. É assim que percebemos que a linguagem esta atrelada a categoria tempo-espaço em suas funções básicas.
Todos as ferramentas ao longo da história criadas pelos humanos para medir o tempo-espaço, trabalham dentro de categorias matemáticas objetivas de medição. Para o espaço, régua, compasso, astrolábio, GPS. Para o tempo, diferentes tipos de relógios, de sol, de areia, de ponteiros ou digital. Dessa forma é valido que também existam categorias filosóficas e poéticas para tratarmos o tempo-espaço. Conceitos não mensuráveis por medidas matemáticas, conceitos de subjetividade, de relatividade, carregados de poesia e imaginação. Bachelard ao falar da palavra imensidão, toma-a como signo do infinito, e diz: “Poderíamos dizer que a imensidão é uma categoria filosófica do devaneio”. Igualmente cabe aplicarmos a mesma ideia a palavra eternidade, pois se a imensidão não pode ser contida no espaço objetivo, a eternidade não se pode contar no tempo objetivo. E o mais interessante é que a sim como o tempo não esta separado do espaço, a palavra imensidão e a palavra eternidade também unem-se em um sentido comum, o incomensurável. A imensidão e a eternidade são reflexos de nosso íntimo. Diz Rilke: “O mundo é grande, mas em nós ele é profundo como o mar.” É somente pelo devaneio que o ser humano pode apreender o tempo-espaço subjetivamente, como são ilimitados, a imensidão e a eternidade não podem ser compreendidas em termos puramente racionais, mas podem ser sentidas, apreciadas, fruídas pelo homem que medita sobre a intimidade de seu Ser. Nas palavras de Bachelard: “Em tais devaneios que invadem o homem que medita, os pormenores apagam-se, o pitoresco desbota-se, a hora já não soa e o espaço estende-se sem limites”.

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