quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Em sonhos Ela me vem


Hoje ao acordar, trouxe  comigo do mundo do sonhos um sentimento sem imagem, uma lembrança sem experiência, uma sensação clara sem um objeto definido. Um sentimento de prazer misturado a melancolia, um afago com gosto de abandono, uma espécie de presença ausente. Não me lembro bem, não saberia narrar, foge-me da memória. Mas sei que era ela, era a Bela, a parte de mim que me escapa, a metade que falta, a ausência que clama. Me vejo deitado em uma cama, ora sou criança e sinto Medo, ora sou adulto e sinto Angústia, não sei que frio me envolve e me penetra na alma, por debaixo da coberta, nas entranhas do Ser. Ela surge como um anjo, não sei de onde vem, brota silenciosa como uma flor de luz no meio da escuridão do meu quarto perdido. Seu rosto não conheço, seu nome me esqueci, mas seus olhos, que me fitam como uma benção, enchem-me de um doce calor maternal. É a musa pálida, divina e mórbida dos poemas de Álvares de Azevedo. Essa estética  do romantismo maldito, da forma a  meus sonhos e devaneios de Amor e  Morte. Era ela, eu sei, mesmo sem saber, eu sei...
    Todo homem carrega consigo uma dupla imagem de mulher. A Santa e a Puta, a Paz e o Desejo,  opostos complementares, arquétipos que transpassam o tempo. O beijo na boca, como uma pétala que pousa por sobre os lábios, acalma e acalanta o coração. Os olhos que despertam e se deparam com a ilusão desfeita, deixam escapar uma leve lágrima que denuncia o desejo frio e o desalento invocados pelo sonho do impossível.

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