terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Discurso 73

Da cisão de meu ser, da discórdia do meu eu, da contradição intima, nasce o duplo, o Outro que me habita, tão próximo e desconhecido. Os olhos que me observam, me indagam, me acusam e me condenam, por muitas vezes não ser quem penso que sou, e outras por ser deveras eu mesmo. Ele está em toda parte, nos olhos alheios, no reflexo do espelho, por dentro de minha pele. Pensa com meus pensamentos, fala com minhas palavras, age com meus gestos, e mesmo assim está sempre a me escapar, a me esconder, a me trair. É vítima e algoz em minha angústia. Tudo em mim que é distância, pensamento e ação, querer e poder. É falha, lapso, desencontro, intervalo indefinível de mim para comigo. O desejo que dúvida, a ação que vacila, a fala que gagueja. Tudo o que sou e não posso ser, tudo que deveria ser mesmo não sendo. Ele acompanha minha solidão e não me deixa esquecer o veredito: Estas condenado a sempre estar contigo...

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