(Melancholia I, gravura, Albrecht Dürer)
Caminho
pelas ruas da cidade, atravesso salas e corredores, vou ao shopping
center, sento no bar, tomo um coletivo, transitando entre homens e
mulheres que me olham com uma estranha normalidade, e secreta mantem-se
minha dor! Não percebem meu iguais tão diferentes que manco? Que
arrasto dificultoso o peso incalculável de uma ausência? Uma falta
sem nome, uma ferida por debaixo da camisa, que espada ou revolver
nenhum podem fazer! Que sangra e clama em palavras incompreensíveis
como uivos de um animal moribundo a volta do desconhecido. Que parte
que me falta e me ocupa de vazio? Uma perda indelével me acompanha
antes mesmo de mim, e por ela vago solitário com a capa negra do
luto, sem um corpo para velar ou fotos para lembrar, mesmo assim sem
esquecer nem por um instante...