quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A experiência humana

A vida é a materialização da energia cósmica que se torna corpo através de um processo biológico. Do corpo floresce a alma, que cresce e descobre o corpo. A unidade dos seres, orgânicos e inorgânicos, parte do mesmo substrato energético, místico, quântico. Tudo que existe compartilha de uma essência. Para Schopenhauer essa essência é a Vontade, para Kant é a Coisa em Si, para Platão é a Idéia. Ao longo da história das culturas humanas muitas interpretações mistíco-religiosas e metafísicas apontaram para o fato de existir uma espécie de linha mestra que une todas as coisas existentes, e até pode receber o nome de Deus ou Natureza (um Deus impessoal e inconsciente, mais assemelhado ao Caos do universo descrito pela física do que ao deus cristão humanizado e entendido como uma consciência epifenômena).
Assim sendo a experiência humana consiste em primeiro lugar no deslocamento de uma ínfima parte do Uno (Universo – Deus) que se fragmenta tornando-se indivíduo e lançando-se a si mesma (mundo) numa condição de tempo-espaço, em uma viajem que vai da imanência a transcendência passando por diversas metamorfoses. Como o ciclo da água, metáfora utilizada no romance Sidarta de Hermann Hesse, onde a água evapora do mar, torna-se nuvem, depois torna-se chuva que cai sobre os rios, que por fim correm novamente para a imensidão do mar. Um fragmento que se desprende do Todo, percorre esse Todo e depois funde-se a ele novamente, em um ciclo eterno da vida.
Ser humano é ser fragmento consciente de si e do mundo ao seu redor. Mas essa consciência de si e do mundo se desenvolve aos poucos, em um processo de constante descoberta. O autoconhecimento, pregado por Socrates e pelas culturas orientais como o budismo, diz respeito a descoberta de si como indivíduo pertencente a um Todo maior, porém indivíduo autônomo que goza de liberdade, liberdade essa que é condicionada e não total, pois liberdade total só é possível no Uno, quando se é tudo e nada ao mesmo tempo (Nirvana). O humano constrói seu Eu em um processo de identificação e estranhamento com o Outro. Só o Deus (Uno) se configura como identificação total.
Platão dizia que a alma clama por regressar ao mundo das Idéias de onde provem, há uma verdade nisso ligada a Morte, que é a passagem, o regresso tanto do corpo como da alma para seu lugar de origem, o Uno. Dizia Lavousier, “na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”, isso diz respeito ao corpo físico, que sendo matéria se decompõe e se une a terra, mas também ao meu ver diz respeito a alma, que como energia também se decompõe e se dissolve no universo.
A experiência humana dolorosa e perturbadora, envolve a transgressão da ordem do Uno e a reposição da mesma. Existe nisso a necessidade da aceitação que tal experiência é sempre perspectiva, pois sendo apenas parte não é possível percebermos o Todo por completo. Somos como pulgas nas costas de um leão, porém compartilhamos com esse leão o mesmo sangue, que nos alimenta e da vida a ambos. A condição humana é a condição de uma pequenez virtuosa!

Um comentário:

Anônimo disse...

onda do mar é mar também