segunda-feira, 18 de maio de 2009

I.

O exercício da observação moral: o que é a observação moral se não a análise das percepções empíricas e psicológicas das relações interpessoais, levando em conta os valores históricos e culturais das construções sociais? Buscando entre elas sentidos de Bem e Mal, certo e errado, útil e inútil, verdadeiro e falso, aceito e reprovável. Comumente na vida cotidiana esse é um dos mais apreciados exercícios entre grupos e subgrupos populares. Obviamente que em um nível mais baixo, com uma linguagem menos diversificada e profunda, com fundamentos intelectuais menos arrojados, no âmbito do senso comum isso é chamado, em tom pejorativo, de “fofoca”. Se não vejamos como se dão as coisas. O que faz um “fofoqueiro” ou “fofoqueira”? Penso que fala sobre a vida das outras pessoas, incluindo de diversas formas diferentes uma sensação de simpatia ou aversão, ou mesmo às vezes um posicionamento não muito bem definido. De ambas as formas (ressaltando as devidas diferenças) o que está envolvido basicamente é a emissão de uma opinião sobre os valores envolvidos em determinada ação ou reação humana. A “fofoca” se caracteriza como um comentário impertinente, insolente, repleto de uma pequena maldade cotidiana, desprovido de análise crítica, reflexiva e racional, fundamentado por conhecimentos televisivos, sentimentos pessoais e por outras fofocas. Enquanto na observação moral, tomemos como exemplo “A contribuição para a história dos sentimentos morais” de Nietzsche, existe uma reflexão crítica e racional sobre as relações interpessoais, que busca desvendar não os sentimentos que se fazem obvieis, claramente representados no teatro social, mas sim os sentimentos mais leves e obscuros que se escondem ao primeiro olhar e estão ligados aos interesses pessoais e/ou sociais de cada indivíduo. Buscando perceber relativamente às ligeiras variações na moralidade que ocorrem de acordo com o contexto histórico-cultural e as subjetividades humanas. Além do exército intelectual, crítico e criativo de tal tipo de observação, ela ainda possui uma importância ética tanto para vida individual quanto coletiva. Fora o fato de que na forma escrita à observação moral ganha grande valor literário, podemos observar isso em muitos romances e contos, como por exemplo, de Machado de Assis, anatomista de almas sempre pronto a extrair e analisar a moral de dentro da trivialidade das vidas humanas. Por fim, parafraseando o filósofo já citado; a observação moral ajuda a aliviar o fardo da vida e permite ganhar presença de espírito em situações difíceis como também distração em ambientes enfadonhos, que mesmo nas experiências mais duras da vida se possa ao menos extrair sentenças férteis para serem compartilhadas e tornar a vida pouco mais inteligível e interessante.

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