quarta-feira, 6 de março de 2013

Discurso 63

Não há um único dia em que eu não acorde querendo dormi. Com os olhos entreabertos ainda úmidos de aurora, vejo a vida se desfazer nas brumas do sonho, se perder na irrealidade dos desejos anônimos. E antes que eu possa afirmar que despertei, transito sem corpo, num tempo distinto, nostálgico e sonambúlico, entre mortos e não nascidos, entre Eus vividos e mentidos. E minha vida íntima e abstrata emerge, fluindo por sobre as engrenagens enferrujadas do cotidiano, enchendo minha externalidade, meus gestos fúteis e necessários,  da sonolência profunda e intransponível dos astros.
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