Tenho sofrido por amor, um amor que perdi, ou um amor que nunca tive, talvez um amor esquecido no tempo imemorial, antes de mim, perdido na memória. O fato é que sofro, sem saber bem porque sofro, se é que há algum motivo para sofrer se não o próprio sofrimento de existir sem porque.
Há em meu Ser um vazio, um hiato de mim, que por mais que eu tente preencher reinventando-me, sempre me escapa no por vir. Sinto uma falta de palavras que me traduzam, sinto-me uma gramatica velha de sintaxe prolixa, que se repete e gagueja nas mesmas frases. E se penso no amor, não sei o que é ou deixa de ser, sei apenas que me doí no peito sua ideia abstrata como um espinho fincado na carne. E se dizem que o amor uni, em mim seu poder oposto afasta-me de mim mesmo, sua ausência separa-me dos outros que me cercam como um rio em fúria que não ouso transpor. Haverá algum dia uma ponte que me ligue a outrem que não pela morte? Haverá um comboio que me leve do deserto de mim aos campos floridos do amor por mim?
Não espero muito da vida, pois cansa-me a ideia de ter que esperar algo mais que a morte. E ao invés da ilusão que engana, prefiro fomentar em minha alma o sonho que embala a vida vivida alheia a si mesma, distante de toda objetividade inútil, de toda conquista estéril, de todo desejo redundante. Vivo e calo! Pois não carrego a visão futura dos profetas, nem a certeza eterna dos loucos. Apenas a fria lógica da incerteza que trai e da possibilidade que vislumbra espantosa.
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