quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Arte de Protesto?

A arte em suas múltiplas funções sociais ao longo da história assumiu muitas vezes o papel de instrumento de protesto. Independente da linguagem adotada a arte pode sempre servir como uma forma de critica, seja na pintura, no desenho, na música ou na poesia, algo que mecha com as estruturas e valores de uma sociedade, que desconforte e faça pensar ou mesmo que escandalize.
    Exemplos históricos não nos falta. No inicio do século XIX  Daumier foi preso por ridicularizar o imperador francês com  sua caricatura Gargântua, no mesmo século e na mesma França décadas depois, Baudelaire foi multado e teve os exemplares de seu livro Flores do Mal apreendidos pela lei. A antiarte desenvolvida pelos Dadaísta no inicio do século XX  era tipicamente uma arte de protesto radical, que mais tarde foi herdada pelo movimento Fluxos, já na década de 60. A luta por liberdade dentro de uma sociedade burguesa e conservadora era o mote que movia a criatividade desses artistas revolucionários e rebeldes. Daí surgiam todos os tipos de afronta aos “bons costumes”, performances e happening eram os novos instrumentos de ação político-artística, feito em lugares públicos, o objetivo era afetar as pessoas diretamente, tira-las de sua aparente confortabilidade, chocar, chamar a atenção, invocar a dúvida e a critica. Não podemos esquecer do Brasil nesse contexto, em plena ditadura militar os artistas queriam mais é protestar, canções e peças teatrais tentavam levar a critica ao governo até o público.
    Mas frente a atual situação socio-política e artística do mundo globalizado a pergunta que surge ao se pensar em arte de protesto é, como faze-la? Em um contexto onde tudo se torna produto e moda, e onde em meio a diversidade, o conformismo e a quotidianidade as pessoas estão totalmente anestesiadas e preparadas para ignorar complemente qualquer coisa que aparentemente as desconforte ou simplesmente encara-las com uma normalidade mórbida. Hoje em dia a força das mídias se ampliaram tanto que mais do que nunca, guerras, misérias e atentados se tornaram reality shows que se pode ver enquanto se toma uma coca-cola no sofá. A enorme diversidade proposta pela globalização e distribuída  pela Internet  parece tornar tudo convencional. O grande paradoxo de nossos tempos é mesmo a globalização internetica, que torna a própria diversidade um padrão. Como protestar sem cair no clichê e ser absorvido pelo sistema onde tudo se torna mesmice?
    Na abertura de uma exposição em grande museu brasileiro, em meio ao coquetel com mesa de quitutes e vinho em um clima formal de artista, especialistas e estudantes de arte, uma mulher surge com cara de zangada, e sem pronunciar uma só palavra arranca rapidamente todas as vestes, se colocando nua, e num pulo sobe sobre a mesa de quitutes e começa a se lambuzar bizarramente neles. Ela chuta com certa ira os copos, pratos e bandejas, fazendo uma bagunça. Depois da cena de poucos minutos ela sai andando entre os convidados, que a pesar do aparente espanto continuaram a comer e beber e até esboçaram algumas palmas para a artista performance tão “ousada” e “rebelde” (assim como a boa e vela  juventude dos  anos 60 e 70!). As pessoas acharam que tudo foi só mais um show como os da TV! Os “intelectuais” e “artistas’ presentes acharam lindo a jovem artista se expressando! Os mais desenformados  apreciaram suas belas formas femininas e riram da bagunça! O que aconteceu com o protesto, com desconforto e com a critica?! Será que se tornou impossível em nossa sociedade tocar verdadeiramente as pessoas através da arte? Será impossível criticar as coisas sem parecer ou um fundamentalista radical ou um piegas? Será possível fazer alguma coisa realmente criativa em meio a massificação globalizada? Dentro das relações de poder que estratégias devemos tomar para não sermos engolidos pelo sistema, pela mesmice e pelo conformismo? Concerteza não podem ser as mesmas estratégias das décadas passas! A nostalgia de uma época de engajamento social tem levado a atual juventude a cair em clichês, não que hoje falte coisas a serem criticadas, o problema é que o mundo já não é bipolar, já não há vilão e herói, já não há ditadura (pelo menos não tão descarada como antes), e por isso a crítica na arte precisa ser refazer, e ser mais delicada e minuciosa do que foi em outras épocas. Por fim, a verdade é que a tal performance até chegou a chocar algumas pessoas, claro que não os convidados, que devidamente alimentados saíram como se nada tivesse acontecido, mas sim os garçons  que tiveram que limpar tudo e recolher todos os cacos de vidro do chão. Esses devem ter se queixado: “Os artistas fazem arte e a bagunça quem limpa é a gente!” 
  

Um comentário:

Anônimo disse...

so acho triste quando a unica motivaçao para fazer arte vem do protesto... te falei da poesia da Alice em respostas aos poetas que so sabiam protestar:"Se eu fizer poesia com a tua miseria ainda te falta pao, pra mim nao" e mais ou menos por ai eu acho.