domingo, 30 de dezembro de 2012

Discurso 100

O mais importante em um ano que se vai, não é o novo que inevitavelmente virá, mesmo que disfarçado, por vezes, de antigo. Pois o futuro é uma virtualidade que a imaginação pode até arquitetar, mas é o acaso quem constrói. É o morto que tem de ser celebrado para podermos exorcizar tudo que é perda e concluir a passagem. O que deixa de ser para poder voltar a ser. E no luto dos que sobreviveram, erguer um brinde ao esquecimento, regenerador da consciência. Que devora toda culpa e todo arrependimento, vislumbrando um amanhã, desejado mesmo em seu gosto amargo de incerteza.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Discurso 94

O desejo é principio de falta ou impossibilidade de saciação, posto seu sentido profundo de busca infinita. Ele é o que tarda a regressar e o que nunca cumpri seu destino. Enquanto ausência está ligado a lembrança do imemorial, ao arcaico e metafísico, provindo das origens impenetráveis do Ser, fazendo-se somente no momento infinitesimal do agora que busca no passado a repetição que se faz mesmo na diferença. Invocando assim o prazer que é silencio e imobilidade junto ao eterno. Sempre de novo e sempre constante. Mas o oposto da ausência também arde e clama no ser! Quando volúpia, o desejo se faz no excesso, é um transbordar-se impetuoso e desbravante voltado para o por-vir. O sagrado esquecimento que permite a novidade no antigo. Constituído por um deleite perturbador de voracidade indefinida. Em nem uma de suas manifestações o desejo pode ser satisfeito, pois nada há nele de necessidade, instinto primitivo do homem-bicho. Há apenas imaginação, criação do impossível e substituição precária deste. Matriz cíclica de movimento imóvel. O prazer é um de seus fenômenos, mas não seu objetivo, já que ele sempre volta-se para si, carregando concomitantemente conquistas e fracassos numa mesma ânsia sem nome. Incógnita que se esconde ao revelar-se num jogo sem fim de bonecas russas, uma a guardar a outra, mais fundo, mais dentro, mais longe...