quarta-feira, 15 de julho de 2009

A partida


Os últimos dias antes de minha partida são impregnados de um sentimento de angústia latente, como se meus temores se fundissem a minha ansiedade formando um terceiro elemento obscuro e pegajoso que emplastra minha alma. Nada atualmente nesse lugar me agrada, passo dias inteiros trancado recluso em meu quarto, entediado demais para colocar o nariz para fora, imerso em literaturas que consolam minha falha de viver. Não sei ao certo se por lá será diferente, mas e exatamente essa dúvida que alimenta minha ansiedade atroz, que em alguns instantes de pensamento profundo parece abalar toda a minha consciência e imediatamente caio em um profundo sono de fuga, como um guerreiro que levanta a bandeira branca por cansaço da batalha... É a imagem do futuro que me assombra! Ou será a falta de sua imagem?! A imprevisibilidade do movimento, o por-vir! Quando iniciamos um movimento, seja qual for ele, estamos saindo de um ponto que ocupamos no tempo e no espaço e nos dirigindo a outro ponto que ocupa outro lugar no tempo e no espaço. Saindo de um estado de repouso, transitando por um estado de movimento e regressando ao estado de repouso, tal é o caminho percorrido. Independente da questão do movimento ser ou não indivisível, pode-se dizer que o movimento em síntese é um não-estado, um não-lugar, uma não-coisa, um não-ser... Onde o movimento se apresenta? Ele se apresenta no espaço intermediário entre o ponto de onde se sai e o ponto aonde se chega, ou seja, não há movimento nos pontos, só há movimento onde não há pontos, no espaço livre, indeterminado, misterioso... Se o movimento é o que nunca é, pois é sempre o por-vir, nos termos eraclitianos,ele é como o pulo no escuro, o vazio, o nada, elementos não-existentes que determinam os existentes. O movimento não pode ser contido, comprimido, classificado, é como a onda do mar que depois que se forma não importa se vai quebrar na praia ou na pedra, o certo é que ela quebrará e isso terá efeitos. Sendo o movimento campo de liberdade e também campo de possibilidade isso gere ansiedade, expectativa do novo. Quanto ao Medo, parece claro que se existe no movimento espaço de possibilidade em contrapartida há espaço de incerteza, insegurança, desamparo... O movimento rumo ao ser, a eterna partida seguida do eterno retorno! Parto em poucas horas para uma viajem... não sei bem para onde, não sei ao certo para que fim... Sei que parto, iniciando um movimento tão instigante quanto pavoroso rumo ao intangível...