domingo, 7 de setembro de 2008

Elogio à Solidão




Perdido em abstrações sem nenhuma finalidade nem objetividade, passo um tempo indefinido em meio à apreciação literária de García Márquez e profundas reflexões sobre a Solidão. A Solidão esta dama misteriosa e taciturna, que esconde sua face púrpura e olhos de cristal sobre negra manta, confundindo-se com a Morte, e trazendo em mãos a tragédia de um destino oculto! Ela a quem a maioria teme e nega, enquanto os filósofos, poetas e profetas dela se enamoram. Que dirá Cristo em seu retiro para o deserto ou Buda em sua profunda meditação ou Caeiro em sua distante vida campestre, que palavras doces proferiram a Solidão para tais ouvidos sábios?!
Os que temem a Solidão são os que temem a si mesmos, pois somente no recôndito do Eu se encontra tal musa, de face ambígua de pavor e deleite. Somente no campo da liberdade é que a Solidão se manifesta verdadeiramente, e é através dela que se pode exercitar a soberania de si mesmo. Às vezes somos governados pelo Amor, outras vezes pelo Ódio e ainda alguns vezes pelo Medo ou pela Inveja. A Solidão é como um elixir de equilíbrio para todos os sentimentos que povoam a alma. Pois é nos pedestais da Solidão, que o sujeito pode erguer-se alto, mais alto que tudo, e da calmaria inebriante das alturas, com um olhar portentoso enfim coroar-se rei de si mesmo, e governar-se em paz! Somente só, é possível aprender a só ser...
O paradoxo da Solidão diz respeito à necessidade intima de estar só para saber estar junto. Conhecer a si mesmo pra assim poder conhecer o outro. No mundo em que vivemos com um sistema tão opressor e controlador a Solidão surge como o único remédio eficaz contra a massificação e a favor da verdadeira autonomia do individuo.
Ó musa da Arte e do pensamento, quero calmamente e longe dos estrondos da existência, deitar minha cabeça em teu colo e clamar minhas dores e meu sofrer, e a cada palavra pronunciada por minha boca uma nova figura se materializa e ocupa uma parte de minha infinitude! Tu és um templo sagrado instalado no fundo da alma, abrigo de paz e descanso onde se pode recomeçar e reconstruir toda a filosofia. Estar só e poder olhar para o vazio interno de si, e compreender que todo esse espaço pode e deve ser espaço de explorarão e criação do Eu. Inúmeras possibilidades do ser. Sei que és sombria e melancólica, e muitas vezes trás em tua companhia o desespero, o abandono e a incompreensão, porem sei o quanto podes ser doce e prazerosa para aqueles que sabem de ti gozar. Amo-te como amo a mim mesmo!Que me sejas apraz e não me deixes sucumbir por teu amor.




"Quem não sabe povoar sua solidão também não sabe estar só no meio da ocupada multidão"
( Charles Baudelaire)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Que Coisa !?!


Fim de semana de tom amarelo desanimo e gosto agridoce. A temperatura de meus dias variou entre a secura da tarde e a chuva morna que gotejou pela noite. Tudo muito “mais-ou-menos”, um sentimento de incompletude me acompanha, de parcialidade, parece que tudo vem pela metade. Vem, mas vem somente uma parte: parte do Amor que poderia ser, parte da Felicidade que poderia ter, parte da Liberdade que poderia usufruir, parte da “Flauta Mágica” que poderia assistir. Tudo sempre em parte, o constante sentimento de que algo sempre fica faltando, alimenta o desassossego de minha existência!
Dias esses que levei ao ritmo contagiante e letárgico de “Coisas” de Moacir Santos. Experiências sonoras únicas, e a cada “Coisa” que ouvia em um novo estado da matéria me transformava. Meu corpo se tornou tão amórfico quanto minha personalidade. Os sons da música criaram um ambiente idílico onde meus ossos e músculos se tornaram gelatinosos com a batida tribal e hipnótica. Senti minhas células e átomos vibrando, pulsando e dançando compassadamente, enquanto meu corpo derretia e escoria da poltrona ao chão do quarto. E já no instante seguinte com os sons múltiplos e harmônicos dos metais, trompete, saxofone, flauta, senti meu ser se esvair pelo ar como fumaça de cigarro, leve e fluida. O trompete tocava uma melodia triste e cotidiana, e meu corpo-fumaça bailava pelo ar, em movimentos simples e desinteressados. E assim sem maiores desgostos e gastos de energia, passaram minhas horas e os dias terminaram e recomeçaram...